segunda-feira, 19 de junho de 2017

Em 1987, testemunhei o efeito devastador de uma trovoada seca entre Pedrogão e Figueiró dos Vinhos

A minha longa vida política, proporcionou-me ser cabeça de lista do PS por vários distritos do País.
Em 1987, era então líder da lista do PS por Leiria, pude testemunhar (e accionar os meios de combate) os efeitos devastadores de uma trovoada seca, naquelas manchas de floresta que se estendem por montes e terríveis desfiladeiros.
Era exatamente nesta época do ano, quando no final de um comício em Pedrogão, já de madrugada, passando em Figueiró, fui testemunha de uma trovoada seca, algo assustador, e que nunca tinha visto, com os raios a cair na floresta, que se incendiava de imediato, nos mais variados pontos, com o vento, que aí costuma soprar forte, a propagar o incêndio a uma velocidade assustadora.
Só tive tempo de chegar a Figueiró e ir ao quartel dos bombeiros comunicar o incêndio, que já lavrava com grandes proporções; na época ainda não havia telemoveis.
Felizmente, que esse incêndio, apesar de ter atingido grandes proporções, não teve as consequências dramáticas do de sábado.
Fiquei tão impressionado com a cena dantesca que testemunhara, que passados dias, vim a Lisboa falar com o meu amigo Azevedo Gomes, o maior conhecedor da floresta portuguesa, um sábio, que, enquanto bebíamos uma bica na"Versailles", me deu o único receituário, que perante condições atmosféricas tão excepcionais e graves, pode evitar tragédias como a de Pedrogão: apostar tudo na prevenção e não no combate, como erradamente se tem feito nas ultimas décadas.
Investir o máximo de recursos disponíveis de Janeiro a Junho na limpeza da floresta, no seu reordenamento e cadastramento rigoroso, com responsabilidades impostas de forma coercitiva aos proprietários, na abertura de caminhos e estradas que  facilitem a mobilidade das forças em combate.
Esse diagnóstico tem décadas. Azevedo Gomes lutou por ele exaustivamente.
Mas todos o ignoraram, privilegiando o combate aos incêndios em detrimento da limpeza e reordenamento da floresta.
O que dá votos, é o autarca e o responsável político entregarem meios de combate aos incêndios, pelas diversas corporações de bombeiros,em festivas ocasiões, nos largos dos municípios, ou nas principais praças dos concelhos, engalanadas para o efeito, com as ambulâncias e os auto tanques alinhados e reluzentes.
A prevenção pelos vistos não faz proselitismo. Assim, apesar de sucessivas ameaças que uma tragédia desta natureza poderia vir a ocorrer, ano após anos continuou-se a investir 90% dos recursos disponíveis em meios de combate e 10% em prevenção.
Quando, pela primeira vez, de uma forma consciente e activa, temos um governo apostado na inversão destas prioridades, dá-se a tragédia. A floresta, à semelhança de Roma e Pavia, não se reorganiza num dia. Há inércias que mesmo pela força demorarão anos a ser ultrapassadas.
60 mortos, 60 feridos, alguns de extrema gravidade, exigem que a prioridade se concentre de forma iniludível, na prevenção, limpeza, cadastramento e reordenamento da tão castigada floresta portuguesa.
Todos os que até agora exerceram o poder a nível central e autárquico, impotentes para terem revertido esta situação, não tem moral para no rescaldo da tragédia, se vestirem de "carpideiras", tentando tirar aproveitamento político de uma situação pela qual são co-responsáveis.
Tenham um mínimo de decoro e de vergonha.
É hora, para sob o patrocínio do Presidente da Republica se celebrar um Pacto Nacional para a protecção da Floresta.

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