segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Para os meus amigos brasileiros, sobre a decisão dos "garotos-procuradores" de Curitiba contra Lula.

"As convicções movem mais do que o Ministério Público. São o motor das paixões políticas mais irracionais. Danem-se as evidências, as conclusões estão firmemente arreigadas. Uma sociedade que não se dispõe a ser intelectualmente honesta no debate público - o que significa aceitar rever mesmo suas mais profundas convicções se os factos assim demonstrarem - está fadada a naufragar como coletividade política. Uma democracia não permite que convicções sejam impostas.
Se permanecemos no debate político presos a dogmas e questões de crenças no lugar  de aceitarmos dados concretos e a realidade isso tem nome: obscurantismo. Não é honesto,não é racional.
A denúncia contra Lula passou a ter a sua síntese numa frase que virou meme: "Não temos provas, mas temos convicção". Isso não foi dito desse jeito. Coisas parecidas foram ditas. Alguém juntou tudo como se fosse uma frase só. Isso é distorção, manipulação, de que tantas vezes reclamam os mesmos que difundiram a versão. Rigor ao reproduzir o que o outro diz é condição para o debate, voltamos ao ponto intelectualmente honesto.
Porém a distorção partiu de algo real. O procurador Henrique Pozzobon disse: "Não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efectivo proprietário no papel do apartamento". Ora, essa é a parte da denúncia sem qualquer solidez. Se ela não tem prova, que dirá a acusação de que Lula era o líder do esquema inteiro, "o general".
O procurador explica a ausência de provas:"Pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário do triplex, da cobertura em Guarujá é uma forma de ocultação, dissimulação da verdadeira propriedade". Faz sentido. Quem coloca propriedade no nome de laranja não tem recibo. Ainda assim, não se pode condenar alguém sem o mínimo de provas. E o procurador admite não haver comprovação irrefutável da parte mais bem fundamentada da denúncia. Uma fragilidade e tanto.
Um dos momentos em que o outro "garoto-procurador", Deltan Dallagnol, fala em convicção acaba sendo o contrário da frase difundida: Dentro das evidências que nós coletamos a nossa convicção com base em tudo que nós expusemos é que Lula continuou tendo proeminência nesse esquema". Ou seja, segundo diz, a convicção decorre das evidências das provas. É o que ele diz e precisará provar."

Sem comentários:

Enviar um comentário